É Mestre em Ciências Sociais, Formadora de Formadores, Mediadora de conflitos, Ativista Social e Escritora.
“ Vivi quase que a minha vida toda na Cidade da Praia. Depois que perdi o meu pai, a minha mãe decidiu pedir transferência e fomos morar em Santo Antão. Terminei o ensino secundário e fui ao Brasil estudar Ciências Socias, apenas 6 meses depois de ter pedido a minha mãe num acidente de avião. Foram momentos muito difíceis, mas sempre eu fui uma mulher com objetivos de vida, e assim consegui terminar meu curso no tempo estipulado com bom aproveitamento.
Depois que regressei a Cabo Verde lecionei por 4 anos na Escola Secundária Suzete Delgado (que foi aonde terminei meus estudos liceais). Tendo muita “sede” pelo conhecimento, candidatei me para o Mestrado, e mesmo a minha Entidade Empregadora não ter me facultado a transferência, mudei me para a Cidade da Praia e fiz o Mestrado na Universidade de Cabo Verde, aonde também, depois lecionei por 2 anos. Logo após, fui Secretária Executiva do Conselho de Concertação Social, e também trabalhei na Comissão Nacional para os Direitos Humanos e a Cidadania”.
É mentora, dançarina e Presidente do Grupo MON NA RODA, que promove a inclusão de pessoas com deficiência física, por meio da dança desportiva em cadeira de Rodas, e representa Cabo Verde em campeonatos Internacionais com excelentes resultados, a exemplo do primeiro lugar do ranking mundial conseguido em 2 categorias, em 2018. Além disso o grupo tem recebido vários prémios e homenagens. Vencedores do prémio Nacional de Direitos Humanos em 2011, Prémio Solidariedade e Voluntariado na Gala Somos Cabo Verde em 2016, Prémio Nacional do Desporto em 2017 e homenageados com a medalha de Mérito pelo Presidente da República, em 2016 e 2019.
“ Em 2009, tive um problema de saúde, em que perdi temporariamente os movimentos dos membros. Tive que fazer algumas consultas fora do país, e no regresso resolvi criar um grupo de dança em cadeira de rodas. Eu amo dançar, dançar é vida, e foi o que na verdade me fez recuperar a 100%. Lembro me que quando marquei o primeiro encontro com as pessoas com deficiência, elas me chamaram de maluca, quando falei da ideia de se criar um grupo. No inicio foi extremamente difícil e desanimador, já que elas próprias tinham preconceito com a própria deficiência. Costumo dizer que se eu não fosse uma mulher teimosa , o grupo não existiria (rs). Sou muito grata pela confiança que “meus mancos” (é assim que nos tratamos rs) tiveram em mim”. Valeu muito a pena esses 10 anos de luta e de reconhecimento, graças a entrega de cada dançarino e de cada patrocinador/parceiro.
Palestrante sobre o tema violência no namoro, que deu origem ao livro “Se causa dor, não é amor”, da sua autoria, trás plasmado 12 histórias de violência no namoro, depois de falar para mais de 3 mil jovens em Cabo Verde e no Brasil. Autora do livro “ Dar a luz com dignidade – Não á violência obstétrica” que será publicado brevemente. O livro relata histórias na primeira pessoa, de mãezinhas que sofreram violência física e psicológica durante a gestação e o parto.
“ Esse foi e está sendo um dos trabalhos mais difíceis que já fiz e ainda estou a fazer. Mexe com a minha estrutura emocional como cidadã, mãe e mulher. Ver tantas meninas em tão tenra idade, e já com um histórico de violência e atrocidades praticadas por rapazes e homens. Sou grata a essas meninas que partilharam suas histórias, e saber que muitas delas conseguiram se libertar do relacionamento abusivo. Que todas as meninas tenham amor próprio, que estudem e se realizem, e não aceitem menos daquilo que merecem”.
Também sou grata ás mãezinhas que partilharam suas histórias de violência obstétrica, na esperança que as mulheres tenham uma gestação e um parto, deveras humanizado. Que o nascimento de um filho (a) seja marcado apenas por boas lembranças.
É engajada em vários projetos sociais, o que rendeu-lhe a nomeação de Mulher do Ano, na Gala Somos Cabo Verde em 2016, distinguida com o prémio “África is More”, e Vencedora do Prémio Nacional de Direitos Humanos na Categoria Ativista social, em 2019.
“ Fico muito feliz pelo reconhecimento que meu trabalho tem vindo a ter nesses anos todos. Me dão coragem para continuar. Os prémios são apenas “a cereja em cima do bolo”, eu não faço meu trabalho pensando em recompensas ( até porque são todos trabalhos voluntários), e muito menos esperando aplausos. Eu sinto que fazendo os outros felizes, eu sou mais feliz. A única coisa que deixamos nessa vida depois que morremos, são as marcas na vida das pessoas.
Aos 41 anos ela ainda tem sonhos. Quer Licenciar-se em Psicologia, ainda neste ano letivo, fazer o Doutorado em Ciências Sociais, o curso de Pilotagem (uma bolsa que lhe foi concedida no Brasil), e ver o sonho do grupo MON NA RODA, ter Sede própria. Um projeto ambicioso, que será de grande valia para todas pessoas com deficiência em Cabo Verde.
“Eu fico muito triste quando alguns jovens de 20-25 dizem que não sabem o que querem da vida, e não fazem nada para que aconteça alguma coisa. Acabo por dar algumas ideias de negócios, mas ficam numa inércia que me faz mal”,. Vou fazer 42 anos, ultimamente minha saúde não está boa, mesmo assim faço os meus projetos sentada a beira da cama, sempre que eu estiver com um pouco de disposição.
Nunca nada caiu do céu para mim, eu batalho muito para realizar todos os meus sonhos, SE EU QUERO, EU POSSO, EU CONSIGO. Gostaria que os jovens, principalmente as meninas, tivessem mais confiança nelas próprias, porque eu acredito que todas temos essa potencialidade de ir “lá” e fazer as coisas. Que fizessem de cada oportunidade um estilo de vida.
Eu tive que me reinventar para ser a Mulher que sou hoje. Me considero um mulher realizada, a única coisa que realmente me falta, é saúde para cuidar dos meus filhos e acompanhar o crescimento deles, eles que são meu bem mais precioso.
Sou grata por todos aqueles que tornam a minha caminhada mais leve.
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